quarta-feira, 29 de junho de 2011

Como Funciona o Jogo de Búzios?

Olukó Brad de Oxalá

               Antes que me chamem de “Mister M da macumba” – caros pais e mães-de-santo: não vou profanar informações. Só estou contribuindo com a minha parcela para que pessoas que não entendem não caiam em contos de marmoteiros.

               Muitos param para se perguntar: como funciona o jogo de búzios? É questão de vidência ou de estudo?

               Creio que esta postagem não será tão grande, por conta da simplicidade que é entender uma coisa tão complexa. Paradoxal, não? Pois é... Vamos nessa!

               Quem nunca viu o espiritualista contando os búzios na hora de jogar? E antes disso... Quem nunca viu o espiritualista balançar as mãos com as pedrinhas antes de lançar à base?

               Saibam que essas coisas não se remetem a fundamentos ou pura vidência, como se fosse algo extremamente sobrenatural. Tem sim a sua parcela de fé, de crença e de questões sobrenaturais. Entretanto, boa parte é física e técnica.

               Não vou profanar os segredos ritualísticos do jogo de búzios, mas vou falar sim, como os espiritualistas chegam às conclusões quando jogam.

               As jogadas e as posições são estudadas. Geralmente são baseadas no número de búzios abertos e de búzios fechados.

Búzios Abertos

               São as peças que – sofrem uma espécie de fratura nas “costas”, originando então um buraco. No jogo, quando este buraco cai para cima, chama-se de “búzio aberto”.

Búzio Fechado

               São as peças que não sofrem essas fraturas, e que quando caem com sua rachadura de natureza (aquela fenda com dentinhos) para cima, chama-se de “búzio fechado”.

E como se chegam as conclusões?

               Baseia-se no número de búzios que caem abertos e fechados.
               Ex.: 10 búzios abertos e 6 fechados podem significar um Orixá ou um Odú.

Todo jogo é igual?

               Não. Não existe uma regra técnica, mas, existem rituais sacros de tradição e que não são recomendáveis brutas alterações. Eu por exemplo, costumo jogar com 26 búzios. Quando se aprende, as pessoas adaptam técnicas pessoas, sem alterar o que não deve. Outros jogam com 9, ou 16 ou 17... Outros com 28 (devido as fases da lua). As técnicas são relativas e geralmente singulares. Os rituais sacros não.

E para identificar um Odú?

               É exatamente a mesma coisa. Búzios abertos, fechados, ou outros tipos de oráculos. Nunca a numerologia.

Qualquer um pode aprender?

               Dizem que sim. Eu discordo. Ifá é inteligente o suficiente para saber quem deve e quem não deve se aproximar dessa aprendizagem. Não que seja uma questão de “preconceito” ou, “seleção especial” ou ainda “grupo vip”. Trata-se dos mistérios do universo que exatamente NINGUÉM é capaz de explicar.

E se eu comprar uma apostila que ensine?

               É a mesma questão! Se o autor da apostila ou do livro for uma porcaria, e só escrever besteira, pode ser que não é a hora de aprender, ou então, nunca será. É muito relativo. É uma questão de espiritualidade individual, e não em massa. Mesmo assim, você precisa passar por rituais sacros e alguém do lado para orientar no seu caminho.


sábado, 25 de junho de 2011

Qual a Diferença Entre Umbanda e Candomblé

Neste vídeo, apresentado pelo Olukó Brad de Oxalá, vocês poderão tirar essa dúvida da vida de vocês!!!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Jesus Cristo no Candomblé

Olukó Brad de Oxalá


Imagem de Jesus Ressuscitando
            Religiões à parte, Jesus Cristo é respeitado por milhões de pessoas no mundo inteiro. Espíritas, umbandistas, messiânicos; entre outros seguidores de múltiplas doutrinas – o que não significa devoção e, ou submissão.

            Figura que marcou a história da humanidade, Jesus Cristo é visto por muitos como filho de Deus. Espírito divino que encarnou e realizou milagres e pregou a palavra de seu pai – o que deu origem ao cristianismo e ao segundo testamento do livro sagrado dos cristãos: a bíblia.

            Visto que essa figura é respeitada por muitos, mas não necessariamente cultuada – alguns candomblecistas acreditam nele. Essa crença está ligada ao coração e a fé. Mas, será que Jesus Cristo pertence culturalmente falando aos ritos do candomblé?

            Ou melhor... Reformulando a pergunta: será mesmo que o candomblé pertence a Jesus Cristo? Essa é uma indagação que será respondida de forma simples para quem está entrando agora na religião, ou para aqueles que já estão há um bom tempo e ainda não tiveram uma conclusão.

            Jesus Cristo não está inserido no candomblé. Saber sobre a bíblia não é matéria para candomblecista. Por outro lado, é bom saber sobre ela sim, para que a pessoa conheça mais as visões religiosas e algumas questões sociais de hoje em dia decorrentes do cristianismo. Mas, religiosamente falando, os deuses dos candomblecistas são os Orixás, Inkises e Voduns.

            Nada contra ao candomblecista que acredita em Jesus Cristo! Todo mundo tem o direito de acreditar naquilo que bem entender. Mas, só para tirar essa dúvida de quem ainda não sabe sobre a resposta... A introdução de Jesus Cristo ao candomblé nasce no século XVI, lá no Brasil – onde os europeus inseriram aos escravos a chamada Literatura dos Jesuítas – catequizando-os então. Com esse episódio nasce o que conhecemos como Sincretismo Religioso.

            É nessa época que Jesus Cristo passa a ser mesclado por muitos ao candomblé.
            Mas, só para ressaltar... Culturalmente e religiosamente, nada tem haver um com o outro (o que não é uma proibição para quem quer acreditar).

            Então, está aí a resposta para quem tinha a dúvida sobre essa questão.

            Muito axé para todos. Brad de Oxalá.


           



quinta-feira, 16 de junho de 2011

Iniciação na Umbanda e No Candomblé

Caros amigos modernos... Este é o programa gravado e exibido no dia 16 de junho de 2011. Neste programa, eu falo sobre a iniciação nas religiões, em especial - o candomblé e a umbanda. Esta pauta partiu de uma dúvida de uma de nossas irmãs modernas.
Vale a pena conferir!
Apresentação: Olukó Brad de Oxalá!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Fé e Medicina No Candomblé

Olukó Brad de Oxalá


            Uma religião seja qual for é baseada, fundamentada em um princípio essencial: a fé. Sem a fé não há religiosidade, e sem religiosidade não há religião.

Símbolo da Medicina
            E como este é um blog de candomblé, vou me referir exclusivamente a esta religião nesta postagem.

            Os Orixás existem sim. Eles têm seus poderes e seus mistérios. Mas, até que ponto a nossa fé deve ir? Filosoficamente falando, eternamente. E quando se trata de saúde? Sim, é fundamental que a fé esteja presente!

            Mas, hoje em dia, nós não devemos nos iludir com religião, no sentido de vendar os olhos e desacreditar nas demais alternativas.

            Na África antiga, os negros faziam seus rituais aos Orixás para obter cura – de modo adaptado à realidade deles e suas condições, políticas e culturais.

            Salve os nossos Orixás! Salve Omolú que é o rei da saúde, juntamente com Bára, mas, há certas ocasiões que não podemos dispensar a medicina! Vejo muitos adeptos dos Orixás se fecharem para medicina acreditando única e exclusivamente no poder de um Orixá.

            Ter fé não é errado. Devemos ter fé para vida, para saúde, para o casamento e para a felicidade, mas... Se você, meu caro amigo, ou amiga, está com uma dor de dente, o melhor ebó para se fazer é uma obturação ou um canal. Se você está com câncer ou leucemia, o melhor ebó é a quimioterapia e tratamentos adjacentes. Se você tiver uma fé paralela aos tratamentos medicinais, ou seja, da matéria, você pode ter certeza que tudo correrá bem.

            Amigo candomblecista ou umbandista: nunca se feche única e exclusivamente para a fé, e nem para a medicina. Mantenha ambos em perfeita consonância.

            Muito axé para todos.

domingo, 5 de junho de 2011

Rituais Sagrados: Segredo ou Matéria Popular?

Brad Pághanni de Oxalá e Irani Neto de Òdélòogún


Fotógrafo PÁGHANNI, brad
            Disponibilidade de material estudantil ou acadêmico no mundo do candomblé é um predicado formidável, mas, ao mesmo tempo paradoxal. Há muito vem se aventando essa questão. As basilares heterogeneidades ideológicas da teologia Yorubá, se compreendem entre dois públicos díspares: os velhos e os novos.

            Há quem diga que o candomblé tradicional não se adapta com os novos conceitos, no que se refere aos estudos de respectiva doutrina. Por outro lado, pessoas que sentem vontade de descobrir seus segredos, defendem a idéia sobreposta ao argumento. Esse conflito de pensamentos é o fator gerador da principal indagação desta matéria: “Rituais Sagrados: Segredo ou Matéria Popular?”.

            Pierre Edouard Leopold Verger, mais conhecido como Pierre Verger, ou ainda, Fatumbi é considerado um dos ícones do candomblé. Também escritor e pesquisador, relatou diversos acontecimentos de respectiva religião, utilizando-se de artifícios artísticos e acadêmicos. Em uma de suas obras, Verger relata sobre os rituais sagrados existentes no candomblé. Relatos estes ricos em detalhes que mostram alguns procedimentos sacros da religião.

            Sim! Isso aconteceu no século XX, mas, seria injusto afirmar que ele fez mal.
            A realidade do candomblé estudantil é uma: a precariedade dos materiais. Logicamente, não podemos negar que, existem materiais muito bons sobre o candomblé, como Lulla Oliveira (Luiz Carlos de Oxalá – fundador da Leqashy) inclusive de pesquisadores de outros países, como William Bascon.

            Verger se manteve como ícone porque ele fez parte da história do candomblé, relatando tanto os procedimentos quanto algumas teorias. Não só literatura, Verger conseguiu com que suas obras virassem documentos, e, não exagerando – históricos, pois, o candomblé é de matriz africana; toda via – religião genuinamente brasileira.

            Em nosso diálogo (Brad e Irani) – vimos uma mulher que escreveu em um livreco sobre os rituais da iniciação no candomblé. Não seria tão ruim se ela não mostrasse de cara os procedimentos como se fosse uma “receita de bolo”.

            Não! Não é ruim escrever sobre, mas, profanar o que é sacro sim! Isso é mau!

            Então, caros 19.000 amigos leitores desse blog...
            Tivemos ai, mais um exemplo de diferença entre MODERNIDADE X DESRESPEITO.

            O candomblé é uma religião – cuja filosofia se mantém profunda graças a certas passagens que se mantém em segredo.

            É importante divulgar, estudar, saber? Sim! É muito importante! Nós aconselhamos estudar muito sobre o candomblé, mas, sempre saber separar o que é sacro e o que é profano. Nem tudo pode ser publicado.

            Iwa, Abá, Asé!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tudo Sobre O Candomblé (História e Nações)

OLUKÓ BRAD PÁGHANNI DE OXALÁ


Fotografia: PÁGHANNI, brad
            Em primeiro lugar, é importante saber que o candomblé é uma religião panteísta. Esse termo é muito importante para compreensão do candomblé, pois, “panteísmo” significa “Toda Crença em Deus” (do grego Pan + Theo). Esse termo sustenta a idéia de que em tudo há um único Deus. Um Deus que está em tudo, onipresente. Também, a idéia politeísta de – vários deuses representando diversos elementares da natureza.

            Quando há uma relação pacífica do conceito politeísta com a idéia que exprime um Deus supremo que vive em tudo, podemos afirmar que essa relação é característica do que chamamos de “panteísmo”.

            Logo, todos os adeptos do candomblé são considerados panteístas, pois, nessa doutrina, existe um Deus supremo e também outros que estão correlacionados aos elementares da natureza, do universo em geral.

            Os Deuses do candomblé são genericamente chamados de Orixás. Genuinamente brasileira, o candomblé é uma religião cujo país de ascendência tem seus adeptos generalizados como “povo do santo”.

            O candomblé não está presente apenas no Brasil. Existem outros países tais como, Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, México, Panamá, Colômbia, Venezuela, Argentina e Uruguai – que abrigam esta religião.

            No século XVI, as tribos africanas, ainda na África – cultuavam de forma singular um único Orixá. A junção de todos esses Orixás se deu aqui no Brasil com a importação de escravos de diferentes tribos para o mesmo local.

            Reunidos nas senzalas, os escravos nomeavam um chefe, também negro, responsável por zelar os ritos aos Orixás. Os chefes homens eram chamados de Babalorixás, e as mulheres, Yialorixás.

            Desde seu início, 1549, passando pela Abolição da Escravatura em 1888, até os dias de hoje... O candomblé vem resistindo ao preconceito e a força do tempo – o que propõe uma infinidade de mutações temporais.

            O candomblé possui adeptos de várias partes do Brasil, das mais diversas classes sociais. Aproximadamente três milhões de brasileiros freqüentam o candomblé – espalhado por dezenas de milhares de terreiros.

            Só na cidade de Salvador, Bahia, existem aproximadamente 2.300 terreiros registrados na Federação Baiana de Cultos Afro-Brasileiros e catalogados pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA.

            Devido a inúmeras parecenças, o candomblé é muitas vezes confundido com Umbanda, Macumba e / ou Omoloko – que são religiões brasileiras, e também, religiões americanas tais como Vodou Haitiano, Santeria Cubana e o Obeah – em Trinidad e Tobago.

            Na África, existiam diversos grupos étnicos e que foram trazidos para cá, Brasil. Os mais destacados são:

·        Yoruba – grupo étnico oriundo da Nigéria composto por aproximadamente trinta milhões de pessoas. É o segundo maior grupo étnico da Nigéria – representando 20 % da população. A maioria fala o idioma ioruba, também conhecido por Èdèe Yorùbá ou simplesmente Èdè.
Geralmente, estão localizados no Sudoeste da Nigéria, nos estados de Ekiti, Ogun, Lagos, Kwara, Osun, Oyo e Ongo.
Vivem também em outros países como Brasil, Togo, Gana, República Dominicana, Cuba, Serra Leoa e República do Benin.

·        Ewe – também conhecido como Jeje – habita Gana, Togo e Benin. Falam a língua Ewe – que está relacionada a outras línguas tais como: Aja, Togo, Benim, Gbe e Fon. Essas línguas pertencem à família de Línguas Kwa – que é um ramo da família lingüística nigero-congolesas.

·        Fon – população do sul de Benin e do sul de Togo. Os Fons falam a língua Fon e sua maior expressão histórica se deu na fundação do Reino Dahomey (Reino do Daomé). Este era um reino, onde atualmente é Benin, fundado no século XVII e que durou até 1901, quando foi conquistado por tropas senegalesas e pela França. Outra expressão muito forte foi à chamada Diáspora Negra – que é caracterizada pelos acontecimentos em outros países fora da África, devido ao processo escravista através do Vodum (tradição religiosa deles).

Com a semi-independência da religião, o candomblé se espalhou por diversas partes do Brasil, e, devido à soma de fatores históricos, culturais e sociológicos, surgem então as chamadas Nações – que são ramificações do candomblé. Essas nações são conhecidas basicamente como Nagô, Ioruba, Ketu, Efan, Ijexá, Jeje, Xambá entre outras.
            Seus fundamentos são muito parecidos, mas há muita diferença entre essas nações, devido aos ocorridos históricos.

            Com essas culturas, o candomblé se tornou uma religião muito vasta e muito rica em mitologias diferentes. Entretanto, nessas mitologias, nós podemos observar algo em comum: os deuses, independentemente do nome que recebem, sempre são criados por um Deus supremo.

Na mitologia Yoruba, os Orixás foram criados por um deus supremo chamado Olorum ou Olodumare. Eles acreditam que não há outro deus equivalente a Olodumare.

            “Kosi Oba Kan Afi Olorun – Não Há Outro Rei Senão Olorun”.

Na mitologia Fon, os Voduns foram criados por um deus supremo chamado Mawu.

Na mitologia Bantu, os Nkisis foram criados por um deus chamado Zambiapongo, também conhecido como Zambi.

No candomblé em geral, nós podemos observar uma certa hierarquia para organização e melhor execução. Existem os sacerdotes, os instrumentistas e outras funções, geralmente associadas à organização social.

Ao contrário do que muitos pensam, não é errado dizer que o candomblé é uma religião monoteísta, uma vez que, nessa tradição – Deus supremo é apenas um. Mas, também não é errado dizer que é uma religião politeísta devido o fato de ser panteísta. Cabe a visão de cada um.

As diferentes nações possuem autonomia em suas ritualísticas. Devido ao Sincretismo Religioso, muitos interpretam o Deus Católico como o mesmo Deus do candomblé: pai de Jesus Cristo, quando na verdade não.

Para o culto às forças da natureza (Orixás, Nkisis e Voduns) – podemos observar uma série de fundamentos, sempre na linhagem da devoção materializada paralela a fé. Geralmente são cânticos, oferendas de animais e vegetais, vestimentas especiais e danças. Os cultos estão sempre baseados na comunicação do homem com a natureza.

É realmente uma religião muito vasta, e aos poucos, vamos mergulhando neste maravilhoso mundo dos estudos referentes ao candomblé.

Sintetizando:

Desde 1549 o candomblé vem se desenvolvendo em diversos estados brasileiros, com alguns costumes diferentes e outros parecidos. São quase quinhentos anos de história. O candomblé sofreu repressão por parte da cultura européia, depois foi praticamente liberado, depois de 1888, teve seus primeiros estudiosos e escritores, e hoje passa pela era da informação para todos, através da digitalização. Pode-se dizer que esta era da informação para todos é denominada Modernismo no Candomblé.

O Modernismo no Candomblé não visa mudar radicalmente a sua visão e suas práticas, mas sim, adaptar a religião aos dias de hoje, no sentido de que – seus adeptos não podem mais estar totalmente inseridos na religião deixando suas vidas sociais de lado. Todos precisam trabalhar, estudar, cuidar da saúde e todas essas relações sociais não devem ser interferidos pela religião.

O Sincretismo Religioso no Brasil

Com a vinda dos escravos africanos para o Brasil, os europeus decidiram doutriná-los, não somente nas questões sociais, mas também, na religiosidade. Os Europeus elaboraram uma série de materiais para catequização ao catolicismo, e aplicaram a força na cultura dos escravos.

            Entretanto, os escravos foram mais inteligentes, e sofisticaram um sistema para continuar seus ritos-berço; o que deu Origem ao Sincretismo Religioso no Brasil.

            Escravos rezavam diante de uma imagem de Santo Católico, porém, em língua Ioruba – quando na verdade prestavam suas devoções aos deuses africanos. Os europeus eram “enganados” e acreditavam mesmo na catequização dos negros.

            Esse foi mais um fator muito forte na história do candomblé. Foi um fator tão forte que até hoje podemos encontrar similaridades entre religiões de matrizes africanas com o catolicismo.

            Os deuses africanos foram associados a personagens, Santos Católicos para facilitar a prática às escondidas:

·        Exú – Santo Antônio.
·        Omolú – São Roque ou S. Lázaro.
·        Ogum – São Jorge em uns locais e Santo Antônio em outros.
·        Yemanjá – Nossa Senhora dos Navegantes.
·        Oxum – Nossa Senhora da Conceição.
·        Xangô – São Jerônimo, São João Batista e São Miguel Arcanjo. Em alguns lugares – São Pedro.
·        Oxóssi – São Sebastião e São Jorge.
·        Iansã – Santa Bárbara.
·        Ibeji – São Cosme e Damião.
·        Obá – Santa Rita de Cássia e Joana D’Arc.
·        Nanã – Santa Ana.
·        Oxumarê – São Bartolomeu.
·        Oxalá – Jesus Cristo e Nosso Senhor do Bonfim.

Entretanto, algumas religiões “irmãs” do candomblé como a chamada umbanda, preservam a tradição do sincretismo, quando o próprio candomblé, na maioria dos casos, já extinguiu esse costume.

            Alguns estudiosos dizem que esse sincretismo começou na África mesmo, com a ação de missionários. Esses mesmos estudiosos afirmam que os africanos usavam altares como camuflagem, quando por baixo, tinha na realidade, assentamentos de seus deuses (Orixás, Nkisis ou Voduns).

            Mesmo depois da semiliberação da religião, alguns terreiros de candomblé continuaram usando alguns elementares cristãos, como o crucifixo e algumas imagens de santos católicos. Outros, mais fundamentalistas, optaram pela reavaliação desses conceitos, resgatando a cultura passada, a fim de tornar o candomblé mais próprio, e menos alterado.

            

Ègbòrì – A Iniciação Mais Importante do Candomblé

Olukó Brad Pághanni de Oxalá


1.0 – O Conceito de Ègbòrì.


            O candomblé é uma religião genuinamente brasileira ramificada em múltiplas tradições provenientes do mesmo continente: a África. Dentro do candomblé, podemos observar uma série de difusões ritualísticas com um determinado intento. São muitos ritos e muitos horizontes a serem impetrados, todos com o mesmo desígnio: aspirar compreensão da humanidade em homeomorfo à espiritualidade.

            O candomblé mune seus cultos competentes, independentes de quaisquer religiões. Os adeptos dessa religião cultuam, veneram, exaltam a natureza em forma de Deuses diversos, muitas vezes generalizados como “Orixás”. Não só esses Deuses, mas também a ancestralidade, os animais e a própria energia. Fundamentados nesta última que iremos prosseguir o objeto.

            Ègbòrì é o nome dado ao processo ritualístico cujo intuito é revigorar, reconstruir, restaurar e manter saudável nossa energia pessoal, ou, a energia de nossa cabeça, mentalidade.

            Etimologicamente, a palavra Ègbòrì vem do Ioruba arcaico (èdèe yorùbá) onde há a soma de dois morfemas: Ègbò (oferenda, trabalho sagrado) + Orí (cabeça). Na linguagem coloquial do candomblé – “Borí”.

            O ritual Ègbòrì é dedicado única e exclusivamente a nossa cabeça; e tal é considerado por Orúnmilá Ifá (deus da sabedoria) a iniciação mais importante no mundo religioso, uma vez que a cabeça é a morada dos Orixás e das demais energias.

            Este feito consiste em uma série de fundamentos, baseados em ervas, cantigas e sacrifícios para manter a energia vital do ser humano. Nada tem haver com iniciação L’esy Òrìsà (iniciação tradicional) ou L’esy Ifá; ou até mesmo L’esy Yiamí Osóoròngá.

            Segundo a crença e a tradição, o Ègbòrì é um ritual de oferenda à cabeça, trazendo para o feitor, paz, harmonia, clarividência, estrutura e uma série de atributos positivos e essenciais para felicidade. Com isso podemos dizer com extrema precisão que – o Ègbòrì é um ritual próprio, com uma finalidade independente. Acredita-se que essas oferendas “alimentam” o Orí, assim como a fé.

            É possível encontrar o Ègbòrì em todas as ramificações do candomblé, e também em religiões análogas. A diversidade é muito grande. Só nas ramificações, podemos encontrar:

            Ketu – da Bahia e a maioria dos estados Brasileiros; Nagô-Egbá – em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Alagoas e Paraíba; Mina-Nagô; Xambá; Angola, entre outros.

            Em outros países... A Santeria Cubana, em Cuba, o Obeah, em Trinidad e Tobago e o Vodou – no Haiti.

            Isso mostra a diversidade que tem o ritual Ègbòrì e sua independência com relação a todos e quaisquer deuses e semi-deuses.



1.1 - Ègbòrì e a Relação com os Orixás


            A confusão que acontece com relação ao Ègbòrì e o chamado L’esy Òrìsà está na sua cumplicidade; o que não significa dependência. Ao se iniciar na religião, o futuro Yawò passa por uma preparação. Ele precisa estar forte para as ritualísticas L’esy Òrìsà; e por este motivo muitos confundem os dois cultos, acreditando na dependência e não na cumplicidade.

            A mesma coisa acontece com a iniciação a Ifá e a Yiamí Osóoròngá. Até mesmo nas ritualísticas para os futuros Ojés Atokún (sacerdotes da ancestralidade). É preciso um preparo, uma prevenção para ocasiões contraproducentes e inesperadas.

            Sintetizando... O Ègbòrì é um culto independente onde as oferendas são dispostas à cabeça e a energia vital – de um modo unânime. Pode estar presente em qualquer ramificação do candomblé ou em religiões adjacentes.
                                            


Brad Pághanni.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1990 de uma tradicional família, Pághanni iniciou seus estudos respectivos a religiões de matrizes africanas ao freqüentar uma casa de umbanda – no Rio de Janeiro (Centro Espírita Vovó Cambinda da Bahia e Caboclo Sete Estrelas) – de mãe Nilza de Xangô no ano de 2002.
Mais tarde, escreveu uma série de apostilas e alguns livros falando sobre o assunto. Dedicou-se ao estudo de Ifá – formando então a cabana Egbé Oluwá Nláokán – onde jogava búzios. Paralelo a isso, Pághanni formou um grupo presencial de estudos (Brad de Oxalá, Gustavo de Ogum, André de Ossaim, João Pedro de Oxalá, Yuri de Oxalá e Soelan de Oxóssi), onde seus constituintes (na época, todos menores de idade) visavam à revolução no candomblé: Sociedade Candomblé Moderno.
Realizou também workshops sobre temas de candomblé em um centro cultural no Rio de Janeiro, com uma galera de pré-vestibulandos e estrangeiros (Angolanos).
Mais tarde, esse programa de estudos se digitalizou e foi lançado na Internet, com mais de 350 adeptos e quase 10.000 conhecedores do movimento.

Hoje em dia, apenas Olukó. Não exerce função em barracão. Dedica sua vida aos estudos e ao profissionalismo. Casado, Brad é estudante de Letras, jornalista, escritor, poeta, compositor e artista visual. Autor do blog Individualidade & Diversidade – acessado em todo mundo, com conteúdos informativos, artísticos e acadêmicos. Também, apresentador do programa Sociedade Candomblé Moderno, na Internet. Professor extensivo de História da Arquitetura e Urbanismo de Belas Artes, Fotografia Digital, Biocombustíeis e Pedagodinâmica. Seus trabalhos literários possuem como principal característica, o amor pela teologia ioruba, rendendo assim, livros e dezenas de apostilas ainda não publicadas. Outros gêneros literários também fazem parte deste ciclo, como o romance e o erotismo. Teve sua primeira poesia publicada (A Vida é uma Caixa de Surpresas) aos onze anos de idade, em um livro didático. Iniciou oficialmente sua carreira de escritor aos quatorze anos, ao pesquisar os cultos do candomblé. Hoje, divide-se em diversos gêneros literários, acreditando que a arte de escrever é uma só.