quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Importante e o Boçal



- Brad Pághanni



Você sabe das coisas que mais gosto no candomblé? São os espaços presenciais e virtuais onde eu possa aprender alguma coisa sobre a vida. Gosto daquelas pessoas mais velhas que orientam sobre como agir com aquilo que a gente sente. Gosto daquilo que nos impressiona, como uma criança que brinca e conversa com um erê - sem se preocupar se ele é entidade ou não. Gosto da paz de espírito. É o que mais gosto na vida, paz de espírito.



E o antônimo disso tudo é que eu odeio ter que odiar. São espaços onde você é iludido, acreditando que fundamento é saber quantos tomates, pepinos e abacaxis você tem que oferecer pra alguém com algum propósito fútil (enquanto você mesmo pode pensar e resolver sozinho). Um lugar que você canta em outra língua, tudo errado e que não tem tradução.

Detesto aquilo que me impressiona, também: um adulto conversando com um exú, preocupado só porque ele é uma entidade. Detesto preocupação boçal. É o que mais detesto na vida, preocupação boçal.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Como Vencer Seus Problemas Praticando o Candomblé


- por Brad Pághanni de Oxalá




No candomblé não existe um livro ou algo semelhante à bíblia que determine como os cultos devem ser executados, mas, existem estudos que nos ensinam muitas coisas. Um dos principais estudos, além dos fundamentos de Ifá é a faculdade da vida. Aprendemos muita coisa quando passamos a observar mais as questões que envolvem nosso ciclo social.



Primeiramente, devemos saber que o candomblé é uma religião. Para quem não sabe, a palavra "religião" descende de "religare" - que tem como conotação "religar-se a Deus".

Todos os religiosos de qualquer religião acreditam que um ser supremo criou tudo e todos, dentro e fora do planeta. Depois de transformados em carne, nós, seres humanos, tivemos a necessidade de encontrar a Deus, sem nos desligar-mos da matéria. Então, nasce a religião (entre outras, inúmeras questões que fizeram tal nascer).



Praticar o candomblé da forma correta é procurar a Deus. Procurar o grande Deus criador de tudo - Olodunmare - e ao nosso Deus interior - Orí.

Nunca pense que você vai entrar para o candomblé e que seus problemas vão acabar, porque não vão. Antes de qualquer coisa eu aviso logo: você vai entrar para o candomblé e a sua vida vai continuar com os problemas. Mas, virá uma "pequena grande" diferença: você vai aprender a lhe dar com eles para que novos problemas apareçam.

É isso mesmo! Parece que não por conta do folclore que as pessoas fazem. "Customizam o pavão" ao dizer que tudo é feito com ebó, e num passe de mágica este mesmo "tudo" se resolve.



Eu costumo comparar os problemas de nossas vidas com pesos de academia. Quando você entra pra academia, você começa a pegar um peso pequeno, de quatro, cinco quilos. Depois você aumenta para sete, dez, quinze e por aí vai... Até que você se dá conta de que está pegando um peso muito grande, e ao mesmo tempo você está forte, robusto. Está aguentando pegar pesos surpreendentes, e, quando olha pra trás, você que valeu a pena se esforçar e achar que quatro quilos era muito. E, principalmente, reconhecer que aqueles quatro quilos, comparados aos trinta que você suporta fez parte do seu crescimento e que hoje em dia você tira isso de letra.

Os problemas nunca acabam. Sempre surgem mais, e, a medida em que você vai crescendo, os problemas são ainda mais pesados.



É aí que as pessoas começam a te notar. Muitas vezes você vai ouvir que "você nasceu com a bun** virada pra lua" e vai rir, porque, aquelas pessoas que dirão isso não fazem idéia do quanto você lutou e ainda luta para ser o que é.



Outra coisa muito importante é observar que, tudo que você passa na vida, você absorve, e então, seu caráter no futuro estará à moldura da sua vida no passado. Por isso é muito importante que você saiba por onde andar, com quem andar, o que fazer. É preciso ter visão para enxergar o foco. Você tem que ter meta, objetivo, e saber que - nada deve interferir nos seus planos, porque você já pegou, suportou pesos maiores ou similares.

Quando você anda por lugares ruins e com pessoas ruins, você absorve um pouco daquela essência. Aqueles costumes ou manias farão parte de você. Por isso que é muito importante você evitar lugares e pessoas negativas. Caso contrário, acabará que nem elas.



Vou explicar isso de uma forma ainda mais convincente e compreensiva:

Nossa alma, filosoficamente e "yorubamente" falando é constituída pelos quatro elementos: terra, fogo, água e ar. Cada elemento tem uma representação:



Ar - Pensamentos e Reflexões

Água - Sentimentos e emoções

Fogo - Atitude e força do movimento

Terra - Tudo o que há de material



Quando você anda por um lugar bom com pessoas boas ou o antônimo de tudo isso, acontece o seguinte processo:



1 - Você olha tudo aquilo e pensa, reflete (ar).

2 - Aquilo entra no seu coração e você sente (água).

3 - Aquele sentimento gera em você uma ebulição, e você acaba agindo consciente ou inconscientemente (fogo).

3 - Sendo bom ou ruim, vai ter um resultado (terra).



Quando você olha, você pensa, e quando você pensa, você sente, e quando você sente, você age, e quando você age - geram-se vários resultados que por sua vez - formarão seu caráter no futuro (sua alma única e mutável).



Então, aprenda com tudo que você passou, e nunca se faça de coitadinho, porque essa é a pior coisa pra quem deseja ser um vencedor. Se você está pegando um peso grande, significa que você suporta pegar esse peso. Significa que você tem força e músculos e que você é grande.

Ande com pessoas que vão te acrescentar em alguma coisa (em sua pessoa, íntima).

Faça tudo aquilo que você poderá tirar bom proveito, colher bons frutos.

É impossível plantar laranja e colher maçã.



Assim, você vencerá todos os problemas que aparecerão e crescerá muito,





Muitos, mas muitos problemas, é o que eu desejo pra você!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Reclamando de Barriga Cheia? Isso Não Existe!




Muito se fala sobre "chorar de barriga cheia". Será que esse ditado é uma roupa que veste bem em muitos, ou será que este ditado não passa de um clichê de direita ou, sentimento semelhante a se conformar com o fracasso ou objetivos não alcançados? Será que está relacionado à economia, onde os patrões do século XX tinham de ter um contexto para seus empregados trabalharem muito e ganharem pouco? Ou será fruto de uma subjetividade filosófica ao tentar decifrar os mistérios das desigualdades sociais e do misticismo nas questões sorte x azar?

O fato é: não existe "chorar de barriga cheia". O que existem são variações de realidades. Ao mesmo tempo em que vivemos num mesmo mundo, vivenciamos realidades diferentes, pois, quem faz a realidade não é o mundo, e sim, a individualidade de cada Orí.
A pluralidade é subjetiva e a individualidade é inalienável.
O individual é o atributo berço do verbo diverso, ou seja, sem realidade íntima, não há pluralidade - a qual as pessoas pensam errôneamente ser a própria realidade.

Eis que surgem mais pensamentos em comum sobre o "chorar de barriga cheia":

"Olhe a sua volta, você tem tudo".
"Olhe a pessoa ao seu lado. Ela não tem uma perna".
"Olhe aquela pessoa! Ela passa fome e você tem o que comer".

Comum! Muito comum isso tudo.
Mas, porque não parar e pensar sobre a possibilidade do choro ser por alguma necessidade pessoal?
Parece ridículo uma mulher se sentir gorda com 3Kg acima do peso? Parece, mas não é.
Parece ridículo uma pessoa reclamar que está cansada de comer carré? Parece, mas não é!

Sua realdiade é uma. A realidade do outro é outra.

As pessoas têm objetivos a serem alcançados. E quando acontece de aparecer alguma frustração e a mesma ser expelida - outros fazem um check-up de todos os tópicos da sua vida, e comparam o que você vive com a vida dos outros.
Então, lhe conduzem a pensar que você está "chorando de barriga cheia".

Se Orí quer, você consegue.
Quer alguma coisa? É só fazer! Não tem mistério. Pegue, faça, pronto e acabou.
Garanto que nunca vai "chorar de barriga cheia".

Itán de Orí e Àíyá (Odú Osè Ìrètè)



Àíyá disse a um velho que ele não deveria abrir seu comércio em dia de água.
O velho pensou. Tinha suas filhas doentes, e não podia largá-las sem amparo.
Mais tarde, Orí disse ao velho que, se não trabalhasse, sua casa faltaria mantimentos. O velho ficou confuso.
Vendo a necessidade do velho, e a opinião de Orí, Bára de aproximou e disse que se faltasse mantimentos em sua morada, não conseguiria trabalhar para se manter e manter suas filhas em plena saúde e prosperidade material.
O velho decidiu abrir seu comércio em dia de água.
Nada de movimento. Só a lama nas ruelas. E de repente, um garoto pobre e desgraçado andava sobre a lama. Passou na frente do comércio do velho e pediu algo para comer.
Ele não trabalhava com com alimentos e sim, com artigos decorativos.
O velho levou o garoto pra casa e lá chegando, se deparou com Ikú devorando suas filhas.
Pôs-se a chorar e a implorar que não fizesse isso. Ikú perguntou:
"No palácio dos outros tudo é lindo. Pra que se preocupar com eles"?
O velho respondeu:
"Não com eles, mas, com minhas filhas. Veio também este garoto pedindo o que comer".
Ikú tornou a perguntar:
"Quem é este garoto"?
O velho olhou para cara do menino e o menino disse:
"Meu nome é Íretí".
O velho disse a íkú:
"Estava ele com fome. Como poderia eu negar?"

Ikú disse ao velho que ele deveria escolher entre ouvir Orí e Àíyá.
Libertou suas filhas e foi embora.

Íretí disse ao velho que ele deveria ouvir os dois na hora certa.