segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Conto do Jovem Toby



Jovem, filho de pais ricos – tinha tudo o que queria. A primeira vez que saiu de seu país tinha quatorze anos. Foi para conhecer a Grécia. Experimentou as suas tradições e depois voltou para seu país.
Aos dezesseis, viajava o mundo inteiro. Culinária chinesa ele conheceu, dança russa ele apreciou. Filosofia japonesa ele compreendeu. Montanhas mais altas ele escalou. Ondas gigantes ele surfou.
Experimentou como é falar várias línguas. Ou, pelo menos tentou. Teve ideia de cada idioma.
Conheceu lindas garotas. Namorou várias delas. Gostou mais das tchecas. Amou a arquitetura turca. Viajou muito. Muito mesmo.
Pensava ele aos vinte que tudo sabia. Sim, conhecia mais coisas que seus amigos. Mas, sua prepotência lhe traçava um perfil: o da infantilidade.
Um dia, seu avô lhe convidou para conhecer o interior de uma cidade. Foi de caminhonete velha até lá. Ele viu pastos e vacas, porcos e galinhas. Subiu ele num monte, bem alto. De lá viu uma praia, pequena praia.
Desceu o monte em direção a ela, e chegando lá, na beira do mar, sentiu a água gelada nos pés. Olhou para os dois lados e pensou o quanto o lugar era bonito.
Não havia casa, não havia comércio. Só havia natureza.
Percebeu, ele que – no silencio – muitas respostas se encontraram.
Agachou e pegou uma estrela-do-mar. Olhou bem de perto e sorriu. Olhou cada detalhe do animal. Depois olhou para o céu cinzento e fechou os olhos. Deixou que o vento fluísse por seus cabelos lisos, e seu rosto ser lavado pelas gotículas de chuva.
Olhou para o horizonte e pensou. Concluiu que em lugar nenhum do mundo, de todos os lugares que viajou – achou um lugar tão bonito, singelo e harmonioso.

Moral: Podemos viajar por todo este mundo. Experimentar de tudo. Sempre haverá uma praia que não conhecemos, e que jamais imaginamos sobre sua existência.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O QUE É CANDOMBLÉ?




Uma Visão Diferente Sobre o Candomblé

Não sou o rei da verdade, mas, proponho aqui nesta postagem uma nova visão que podemos ter sobre o candomblé. 
Para ler este texto é necessário saber que: há formas e formas para ampliar os horozontes. Eu sigo uma ramificação filosófica. Talvez você siga outra, mas isso não significa que eu condene a sua forma de crença e sua fé dentro do candomblé. 

Tudo o que você viu e viveu no candomblé – por favor – não esqueça, jamais! O candomblé, assim como todas as religiões, sofre mutações para sua sobrevivência. Essas mutações têm como objetivo, a prevalência da religião adaptada aos tempos – atendendo a todas as necessidades da sociedade religiosa, sem se afastar do mundo e da coerência que a atualidade exige.

Não encare mais o candomblé como uma doutrina absoluta. Os Orixás não são absolutos. Fazem parte simplesmente de uma crença – a qual seus adeptos enxergam o poder se materializando através de ações aplicadas anteriormente, exalando como resultados de doutrinas e dogmas sistemáticos. Têm como fundamento principal, o domínio do psíquico e a manipulação das ferramentas para as execuções desejadas.

Os egípcios acreditavam em seus deuses. Os astecas acreditavam em seus deuses. Os nórdicos acreditavam em seus deuses. Os indianos acreditavam em seus deuses. Todos eles possuem uma semelhança: a crença. E todos eles possuem uma diferença: os deuses.

O dia que você chegar para um Japonês de raiz, tradicionalíssimo e perguntar para ele: ‘o que Ogum significa em sua vida?’. Certamente ele responderá que não conhece ou então: ‘nada, não significa nada’.

Se você chegar para um angolano e perguntar para ele: ‘o que Ganesha significa em sua vida?’. Certamente ele responderá que não conhece do que se trata ou então: ‘nada, não significa nada’.

Se você chegar para um mulçumano e perguntar para ele: ‘o que Afrodite significa em sua vida?’. Ele poderá responder que não sabe ou dirá que não significa nada!

Agora, imagine toda Europa. Vamos dar um pulo para Amsterdã - Holanda. As pessoas andam de um lado para o outro, em suas bicicletas. As deixam em um estacionamento gigantesco, com mais de três mil bicicletas. Andam mais um pouco até chegar à estação de trem. Elas pegam o trem e veem toda aquela paisagem esbranquiçada de neve. As casas são bem ao fundo porque os trilhos são em relevos. Ainda na Holanda, vamos dar um pulo para Keukenhof. Imagine você dirigindo pela beira daquela estrada com as plantações de tulipas que há por lá. A maioria é amarela. Plantações quilométricas. Com tanta neve e com tantas tulipas, as pessoas pensam como vai ser o dia de trabalho. Elas olham pela janela. Elas estão preocupadas se as tulipas vão morrer ou se um vândalo vai destruí-las. Elas estão preocupadas com a conta do banco ou, com o filho que namora uma garota esquisita. Estão preocupadas com suas churrasqueiras: elas esqueceram no quintal faz uma semana e agora nevou!

Vamos fazer uma viagem para Rússia. As pessoas estão vendo ballet. Elas estão vendo ‘O Lago dos Cisnes’ e estão tentando associar os passos com a verdadeira e tradicional história.

Vamos dar um pulo para a Universidade de Oxford. Os alunos estão preocupados com o dia de uma apresentação! Eles terão que falar sobre a política republicana.

Vamos dar um pulo na Espanha. Agora na Irlanda. Agora na Indonésia.

Pense comigo: o que essas coisas têm a ver com o candomblé?

A resposta é simples: nada!

A Irlanda não sabe o que é Yiá-Mi, a Angola não sabe o que é Ganesha, a Austrália não sabe o que é Thor, nem o Canadá sabe o que é Kukulkán.

Porque eu os levei para dar a volta ao mundo? Pra vocês verem que não é só o Brasil e Orixá que existe. Orixá não é absoluto. Pode ser absoluto dentro de você, dentro do seu Orí. Pode ser absoluto para seu Bára, para seu Odú, mas não no mundo.

Obama é um dos caras mais bem sucedidos do planeta! Nunca ascendeu uma vela para seu Orixá.

Chuck Norris? Pode ter certeza: ele não é filho de Ogum, porque na cabeça dele, Ogum não existe ou não significa nada.

Mas, Brad, você está menoscabando o candomblé?

Não, é claro que não! Só estou mostrando as possibilidades que existem.

Orixá e candomblé são crenças. Crenças!

Ainda sim, Orixás existem? Sim! Porque existem dentro de nós, dentro de mim e dentro de você.

Mas, Brad, Orixá é natureza. Eu existindo ou não a natureza existe.

Sim, a natureza existe. Mas ela só é deus se você a respeitar como tal. E é o que nós, praticantes de candomblé fazemos: respeitamos a natureza como deus. Isso engloba o ser humano, porque todos os humanos também são deuses.

Pra quem não sabe, no mundo da filosofia – conhece-se o ceticismo como um objeto de visão direta: o cético olha uma pintura, uma tela com uma flor. Ele só vê a flor e não vê além. Não vê o que o artista tentou passar. Para ele só há uma flor e mais nada. Isso se chama ceticismo.

O ceticismo pode se encaixar em diversas modalidades: religião, artes, filosofia... Etc.

Indo um pouco além...

O que é Orixá?

Teoricamente – são os deuses do candomblé. São associados a natureza e cada um possui uma característica, o que diversifica o panteão e seus seguidores.

Mas, orixá é só isso?

Não. Orixá tem algo mais profundo. A tradução de Orixá provém de Orí (cabeça) + Ixá (anjo guardião). Portanto, Orixá = Anjo Guardião da Cabeça.

Existe um Orixá chamado Orúnmilá – o Orixá da sabedoria. Ele nos diz que temos um Orixá protegendo nossa cabeça (de forma mais simplificada). Ele diz que quando nascemos, recebemos esse guardião de imediato.

Na verdade essa visão é distorcida. Não recebemos o nosso Orixá de imediato! Recebemos ao longo de nossas vivencias. O nosso orixá é o nosso conjunto de características boas e ruins, somadas com tudo àquilo que vivemos, presenciamos, vimos, ouvimos, fazemos, sentimentos. O ser humano é como um filme de máquina fotográfica: ao se conectar com a luz, ele queima e toma forma.

Se essa crença de que recebemos o Orixá de imediato, na nascença fosse verdadeira, nas antigas tribos africanas não se cultuaria apenas um Orixá para todos os integrantes da tribo. O culto e a adoração eram em massa e não somente singular. Antigamente, quem nascia na tribo de culto a Ogum, era filho de Ogum – sendo homem ou mulher. Na tribo de culto a Xangô? Todos eram filhos de Xangô – sendo homem ou mulher.

O principio da individualidade de culto só existia quando se tratava de culto a Orí.

Mas, Brad, você ainda não explicou ao certo o que é Orixá! Diga-me! Por favor, quero ver se concordo...

Tudo bem. Vamos saber primeiro três conceitos superimportantes para que saibamos o que realmente é Orixá.

Gravem estes nomes porque depois trabalharemos com eles:

- Iwa Edá

- Axé Oluwá

- Orixá

 

Vamos ao primeiro caso:

Se imagine neste exato momento: você está em uma cachoeira, na beira de um rio, e põe a ponta do pé n’água. Está gelada e você sente a correnteza passando. Depois você sobe o alto da montanha. Lá venta tanto que você não consegue ouvir absolutamente nada a não ser o vento. Ainda lá em cima, você está pegando uma folha de boldo e a leva a boca. Você mastiga e sente o gosto amargo. No outro dia você vai à praia. Sente a areia, o sol pelando, as ondas do mar. Perceberam alguma coisa em comum entre todas essas ações? Você teve contato direto com a natureza. Você encostou sua carne diretamente na natureza e seu psicológico produziu uma informação.

A natureza em si, e aquilo que você sentiu ao tocá-la tem nome: Iwa Edá.

 

Vamos ao segundo caso:

Você vai a um presídio. Sim, um presídio comum, um prédio de detentos infratores...

Lá você sente algo ruim. Por ali circula: solidão, arrependimento, desespero, raiva.

Você vai a um circo... Lá você ri, acha graça, se diverte.

Você arruma um novo amor... Você está apaixonado, está vidrado na pessoa, você a ama, quer o bem dela...

Ao longo da vida você:

Um dia ama

Um dia odeia

Um dia ri

Um dia chora

Um dia tem senso de justiça e outro dia você comete injustiça.

Perceberam alguma coisa em todas as ações deste segundo caso? Algo de semelhante entre elas?

Todas estas emoções e filosofias que vem a sua cabeça e ao seu coração, em determinado lugar ou situação – são coisas adquiridas ao longo da vida. São coisas abstratas que movimentam a matéria. As pessoas fazem e você sente. Você sente e depois faz, e as pessoas recebem isso. Elas sentem e fazem e outras pessoas sentem e fazem e por aí vai. É um efeito dominó. É uma cadeia alimentar...

O nome dessas coisas abstratas que movem a matéria é: Axé Oluwá – ou seja – força superior.

Tudo o que você viu, você pensou. Tudo o que você pensou, você sentiu. Tudo o que sentiu, de alguma forma agiu. Essa sequencia é a soma de Iwa Edá + Axé Oluwá – que resultam no que você é: seu Ori protegido por uma essência Ixá = Orixá.

Orixá é o terceiro caso.

Orixá mora dentro de nós. Ele não incorpora num xirê. Na verdade ele EXALA de nós. Ele se manifesta. É realmente uma coisa existente. Não é algo que vem de fora e toma conta de seu corpo. Não é algo que não se tem certeza sobre a sua existência. É o seu corpo que põe pra fora todo o Iwa Edá e Axé Oluwá, juntos – em sincronia perfeita.

A forma como você vive e enxerga as coisas já é parte de Odú. Você não é dominado por seu Odú a seguir determinado caminho. Você pode escolher entre pegar um carro ou uma moto. Você tem livre arbítrio. Você manda em si.

Você pode escolher se dorme a noite ou se dorme ao dia. Seu Odú não é um programa. Não é um software que programa como você deve ser. O odú se remete mais ao passado e ao presente que ao futuro. O futuro é só a consequência.

Quando você morre, seu Orixá morre junto com você. Não há possibilidade alguma de herança de Orixá. Você morreu? Acabou! Morreu, está morto, e seu Orixá foi junto com você. Acabou!

É como uma árvore. A nível vida, que diferença temos de uma árvore? Nenhuma, porque ambas são vidas. Quando a árvore seca e morre, ela não renasce. Ela morreu, ficou madeira podre e os cupins a devoraram. Se nascer outra no lugar, essa segunda árvore é outra e não será a mesma que morreu. Uma é uma e outra é outra.

É assim que acontece com o ser humano.

Mas, Brad, você não está sendo cético e radical demais? Não está sendo ateu?

Não! Estou sendo realista.

Mas, se a pessoa morre, e acabou tudo, como fica o culto à ancestralidade?

A PESSOA MORRE, E O ESPÍRITO MORRE. A ESSÊNCIA DA PESSOA FICA. É EXATAMENTE ISTO QUE SE CULTUA.

Isso é muito simples de resolver:

A religião nasceu no tempo das cavernas. Na idade da pedra lascada. Os nômades temiam a natureza e os grandes animais. Eles não podiam dominar e nem prever um terremoto, ou maremoto, ou a erupção vulcânica... Eles não tinham armas sofisticadas para caça. Tinham que enfrentar a natureza e os grandes animais.

Com um tempo, eles foram melhorando as suas técnicas de caça e aprenderam mais sobre os fenômenos naturais – sobrevivendo então mais tempo.

Os caçadores sempre vestiam as peles dos animais. Vestiam colares feitos com dentes para mostrar poder, bravura, força. Vestiam peles de animais para se camuflar e calçar ainda mais. Eles derrotavam tribos inimigas que podiam oferecer algum tipo de risco como o roubo da comida, das paramentas, das roupas, das garotas; covardia com os velhos e crianças. Eram os cabeças para guiar a tribo. Planejavam moradias e tudo mais. Eram os líderes das tribos no sentido geral. Isso fazia com que toda tribo os respeitassem. Na morte deles, eram reverenciados e homenageados. Acreditavam de alguma forma que sua essência ainda estava ali, porque seus vestígios deixados durante a vida – foram os ensinamentos e benfeitorias.

Mas, na verdade eles morreram. Acabou.

Daí nasce o culto à ancestralidade. É o culto mais antigo do planeta!

Brad, você acredita em reencarnação?

Não.

Brad, você acredita na incorporação dos espíritos de pessoas que já se foram

Não.

Brad, você acredita em psicografia?

Não.

Brad, você está na religião certa?

Sim. Eu acredito no respeito e na reverencia aos antepassados e não em suas permanências.

É o caso da umbanda. O que trabalha na umbanda são as energias emanadas pelas pessoas que estão ali. A fé se juntou e formou o culto aos vestígios dos que já se foram.

Os que morreram não voltam mais. E nem incorporam. Eles estão mortos.

Tudo o que se pode fazer é reverenciar e homenagear. Eles não voltam e nem incorporam. Estão mortos.

É cruel dizer isto? É! Mas, é coerente. É sensato.

Candomblé é uma cultura onde se há uma crença: individual que precisa ser mais bem trabalhada em massa.

 

Candomblé é o culto a natureza.

É a reverência aos ancestrais.

É a adoração ao próprio Orí.

É a filosofia da procura do bem-estar.

É a procura pela felicidade e paz de espírito mundial.

 

Brad Pághanni de Oxalá.