Uma Visão Diferente Sobre o Candomblé
Tudo o que você viu e viveu no candomblé – por
favor – não esqueça, jamais! O candomblé, assim como todas as religiões, sofre
mutações para sua sobrevivência. Essas mutações têm como objetivo, a
prevalência da religião adaptada aos tempos – atendendo a todas as necessidades
da sociedade religiosa, sem se afastar do mundo e da coerência que a atualidade
exige.
Não encare mais o candomblé como uma doutrina
absoluta. Os Orixás não são absolutos. Fazem parte simplesmente de uma crença –
a qual seus adeptos enxergam o poder se materializando através de ações
aplicadas anteriormente, exalando como resultados de doutrinas e dogmas
sistemáticos. Têm como fundamento principal, o domínio do psíquico e a
manipulação das ferramentas para as execuções desejadas.
Os egípcios acreditavam em seus deuses. Os astecas
acreditavam em seus deuses. Os nórdicos acreditavam em seus deuses. Os indianos
acreditavam em seus deuses. Todos eles possuem uma semelhança: a crença. E
todos eles possuem uma diferença: os deuses.
O dia que você chegar para um Japonês de raiz,
tradicionalíssimo e perguntar para ele: ‘o que Ogum significa em sua vida?’.
Certamente ele responderá que não conhece ou então: ‘nada, não significa nada’.
Se você chegar para um angolano e perguntar para
ele: ‘o que Ganesha significa em sua vida?’. Certamente ele responderá que não
conhece do que se trata ou então: ‘nada, não significa nada’.
Se você chegar para um mulçumano e perguntar para
ele: ‘o que Afrodite significa em sua vida?’. Ele poderá responder que não sabe
ou dirá que não significa nada!
Agora, imagine toda Europa. Vamos dar um pulo para
Amsterdã - Holanda. As pessoas andam de um lado para o outro, em suas bicicletas.
As deixam em um estacionamento gigantesco, com mais de três mil bicicletas.
Andam mais um pouco até chegar à estação de trem. Elas pegam o trem e veem toda
aquela paisagem esbranquiçada de neve. As casas são bem ao fundo porque os
trilhos são em relevos. Ainda na Holanda, vamos dar um pulo para Keukenhof.
Imagine você dirigindo pela beira daquela estrada com as plantações de tulipas
que há por lá. A maioria é amarela. Plantações quilométricas. Com tanta neve e
com tantas tulipas, as pessoas pensam como vai ser o dia de trabalho. Elas
olham pela janela. Elas estão preocupadas se as tulipas vão morrer ou se um
vândalo vai destruí-las. Elas estão preocupadas com a conta do banco ou, com o
filho que namora uma garota esquisita. Estão preocupadas com suas
churrasqueiras: elas esqueceram no quintal faz uma semana e agora nevou!
Vamos fazer uma viagem para Rússia. As pessoas
estão vendo ballet. Elas estão vendo ‘O Lago dos Cisnes’ e estão tentando
associar os passos com a verdadeira e tradicional história.
Vamos dar um pulo para a Universidade de Oxford.
Os alunos estão preocupados com o dia de uma apresentação! Eles terão que falar
sobre a política republicana.
Vamos dar um pulo na Espanha. Agora na Irlanda.
Agora na Indonésia.
Pense comigo: o que essas coisas têm a ver com o
candomblé?
A resposta é simples: nada!
A Irlanda não sabe o que é Yiá-Mi, a Angola não sabe
o que é Ganesha, a Austrália não sabe o que é Thor, nem o Canadá sabe o que é
Kukulkán.
Porque eu os levei para dar a volta ao mundo? Pra
vocês verem que não é só o Brasil e Orixá que existe. Orixá não é absoluto.
Pode ser absoluto dentro de você, dentro do seu Orí. Pode ser absoluto para seu
Bára, para seu Odú, mas não no mundo.
Obama é um dos caras mais bem sucedidos do
planeta! Nunca ascendeu uma vela para seu Orixá.
Chuck Norris? Pode ter certeza: ele não é filho de
Ogum, porque na cabeça dele, Ogum não existe ou não significa nada.
Mas, Brad, você está menoscabando o candomblé?
Não, é claro que não! Só estou mostrando as
possibilidades que existem.
Orixá e candomblé são crenças. Crenças!
Ainda sim, Orixás existem? Sim! Porque existem
dentro de nós, dentro de mim e dentro de você.
Mas, Brad,
Orixá é natureza. Eu existindo ou não a natureza existe.
Sim, a natureza existe. Mas ela só é deus se você
a respeitar como tal. E é o que nós, praticantes de candomblé fazemos:
respeitamos a natureza como deus. Isso engloba o ser humano, porque todos os
humanos também são deuses.
Pra quem não sabe, no mundo da filosofia –
conhece-se o ceticismo como um objeto de visão direta: o cético olha uma
pintura, uma tela com uma flor. Ele só vê a flor e não vê além. Não vê o que o
artista tentou passar. Para ele só há uma flor e mais nada. Isso se chama
ceticismo.
O ceticismo pode se encaixar em diversas
modalidades: religião, artes, filosofia... Etc.
Indo um pouco além...
O que é Orixá?
Teoricamente – são os deuses do candomblé. São
associados a natureza e cada um possui uma característica, o que diversifica o
panteão e seus seguidores.
Mas, orixá é só isso?
Não. Orixá tem algo mais profundo. A tradução de
Orixá provém de Orí (cabeça) + Ixá (anjo guardião). Portanto, Orixá = Anjo
Guardião da Cabeça.
Existe um Orixá chamado Orúnmilá – o Orixá da
sabedoria. Ele nos diz que temos um Orixá protegendo nossa cabeça (de forma
mais simplificada). Ele diz que quando nascemos, recebemos esse guardião de
imediato.
Na verdade essa visão é distorcida. Não recebemos
o nosso Orixá de imediato! Recebemos ao longo de nossas vivencias. O nosso
orixá é o nosso conjunto de características boas e ruins, somadas com tudo àquilo
que vivemos, presenciamos, vimos, ouvimos, fazemos, sentimentos. O ser humano é
como um filme de máquina fotográfica: ao se conectar com a luz, ele queima e
toma forma.
Se essa crença de que recebemos o Orixá de
imediato, na nascença fosse verdadeira, nas antigas tribos africanas não se
cultuaria apenas um Orixá para todos os integrantes da tribo. O culto e a
adoração eram em massa e não somente singular. Antigamente, quem nascia na
tribo de culto a Ogum, era filho de Ogum – sendo homem ou mulher. Na tribo de
culto a Xangô? Todos eram filhos de Xangô – sendo homem ou mulher.
O principio da individualidade de culto só existia
quando se tratava de culto a Orí.
Mas, Brad, você ainda não explicou ao certo o que
é Orixá! Diga-me! Por favor, quero ver se concordo...
Tudo bem. Vamos saber primeiro três conceitos
superimportantes para que saibamos o que realmente é Orixá.
Gravem estes nomes porque depois trabalharemos com
eles:
- Iwa Edá
- Axé Oluwá
- Orixá
Vamos ao primeiro caso:
Se imagine neste exato momento: você está em uma
cachoeira, na beira de um rio, e põe a ponta do pé n’água. Está gelada e você sente
a correnteza passando. Depois você sobe o alto da montanha. Lá venta tanto que você
não consegue ouvir absolutamente nada a não ser o vento. Ainda lá em cima, você
está pegando uma folha de boldo e a leva a boca. Você mastiga e sente o gosto
amargo. No outro dia você vai à praia. Sente a areia, o sol pelando, as ondas
do mar. Perceberam alguma coisa em comum entre todas essas ações? Você teve
contato direto com a natureza. Você encostou sua carne diretamente na natureza
e seu psicológico produziu uma informação.
A natureza em si, e aquilo que você sentiu ao
tocá-la tem nome: Iwa Edá.
Vamos ao segundo caso:
Você vai a um presídio. Sim, um presídio comum, um
prédio de detentos infratores...
Lá você sente algo ruim. Por ali circula: solidão,
arrependimento, desespero, raiva.
Você vai a um circo... Lá você ri, acha graça, se
diverte.
Você arruma um novo amor... Você está apaixonado,
está vidrado na pessoa, você a ama, quer o bem dela...
Ao longo da vida você:
Um dia ama
Um dia odeia
Um dia ri
Um dia chora
Um dia tem senso de justiça e outro dia você comete
injustiça.
Perceberam alguma coisa em todas as ações deste
segundo caso? Algo de semelhante entre elas?
Todas estas emoções e filosofias que vem a sua
cabeça e ao seu coração, em determinado lugar ou situação – são coisas
adquiridas ao longo da vida. São coisas abstratas que movimentam a matéria. As
pessoas fazem e você sente. Você sente e depois faz, e as pessoas recebem isso.
Elas sentem e fazem e outras pessoas sentem e fazem e por aí vai. É um efeito
dominó. É uma cadeia alimentar...
O nome dessas coisas abstratas que movem a matéria
é: Axé Oluwá – ou seja – força superior.
Tudo o que você viu, você pensou. Tudo o que você pensou,
você sentiu. Tudo o que sentiu, de alguma forma agiu. Essa sequencia é a soma
de Iwa Edá + Axé Oluwá – que resultam no que você é: seu Ori protegido por uma essência
Ixá = Orixá.
Orixá é o terceiro caso.
Orixá mora dentro de nós. Ele não incorpora num xirê.
Na verdade ele EXALA de nós. Ele se manifesta. É realmente uma coisa existente.
Não é algo que vem de fora e toma conta de seu corpo. Não é algo que não se tem
certeza sobre a sua existência. É o seu corpo que põe pra fora todo o Iwa Edá e
Axé Oluwá, juntos – em sincronia perfeita.
A forma como você vive e enxerga as coisas já é
parte de Odú. Você não é dominado por seu Odú a seguir determinado caminho.
Você pode escolher entre pegar um carro ou uma moto. Você tem livre arbítrio.
Você manda em si.
Você pode escolher se dorme a noite ou se dorme ao
dia. Seu Odú não é um programa. Não é um software que programa como você deve
ser. O odú se remete mais ao passado e ao presente que ao futuro. O futuro é só
a consequência.
Quando você morre, seu Orixá morre junto com você.
Não há possibilidade alguma de herança de Orixá. Você morreu? Acabou! Morreu,
está morto, e seu Orixá foi junto com você. Acabou!
É como uma árvore. A nível vida, que diferença
temos de uma árvore? Nenhuma, porque ambas são vidas. Quando a árvore seca e
morre, ela não renasce. Ela morreu, ficou madeira podre e os cupins a
devoraram. Se nascer outra no lugar, essa segunda árvore é outra e não será a
mesma que morreu. Uma é uma e outra é outra.
É assim que acontece com o ser humano.
Mas, Brad, você não está sendo cético e radical
demais? Não está sendo ateu?
Não! Estou sendo realista.
Mas, se a pessoa morre, e acabou tudo, como fica o
culto à ancestralidade?
A PESSOA MORRE, E O ESPÍRITO MORRE. A ESSÊNCIA DA PESSOA FICA. É EXATAMENTE ISTO QUE SE CULTUA.
Isso é muito simples de resolver:
A religião nasceu no tempo das cavernas. Na idade
da pedra lascada. Os nômades temiam a natureza e os grandes animais. Eles não
podiam dominar e nem prever um terremoto, ou maremoto, ou a erupção vulcânica...
Eles não tinham armas sofisticadas para caça. Tinham que enfrentar a natureza e
os grandes animais.
Com um tempo, eles foram melhorando as suas
técnicas de caça e aprenderam mais sobre os fenômenos naturais – sobrevivendo então
mais tempo.
Os caçadores sempre vestiam as peles dos animais.
Vestiam colares feitos com dentes para mostrar poder, bravura, força. Vestiam
peles de animais para se camuflar e calçar ainda mais. Eles derrotavam tribos
inimigas que podiam oferecer algum tipo de risco como o roubo da comida, das
paramentas, das roupas, das garotas; covardia com os velhos e crianças. Eram os
cabeças para guiar a tribo. Planejavam moradias e tudo mais. Eram os líderes
das tribos no sentido geral. Isso fazia com que toda tribo os respeitassem. Na
morte deles, eram reverenciados e homenageados. Acreditavam de alguma forma que
sua essência ainda estava ali, porque seus vestígios deixados durante a vida –
foram os ensinamentos e benfeitorias.
Mas, na verdade eles morreram. Acabou.
Daí nasce o culto à ancestralidade. É o culto mais
antigo do planeta!
Brad, você acredita em reencarnação?
Não.
Brad, você acredita na incorporação dos espíritos de
pessoas que já se foram
Não.
Brad, você acredita em psicografia?
Não.
Brad, você está na religião certa?
Sim. Eu acredito no respeito e na reverencia aos
antepassados e não em suas permanências.
É o caso da umbanda. O que trabalha na umbanda são
as energias emanadas pelas pessoas que estão ali. A fé se juntou e formou o
culto aos vestígios dos que já se foram.
Os que morreram não voltam mais. E nem incorporam.
Eles estão mortos.
Tudo o que se pode fazer é reverenciar e
homenagear. Eles não voltam e nem incorporam. Estão mortos.
É cruel dizer isto? É! Mas, é coerente. É sensato.
Candomblé é uma cultura onde se há uma crença:
individual que precisa ser mais bem trabalhada em massa.
Candomblé é o culto a natureza.
É a reverência aos ancestrais.
É a adoração ao próprio Orí.
É a filosofia da procura do bem-estar.
É a procura pela felicidade e paz de espírito
mundial.
Brad Pághanni de Oxalá.
Olá meu amigo Brad,boa noite, analisei bem o texto mas não entendi, a Umbanda não cultuam os pretos velhos e os caboclos? Então quando eles incorporam estes ancestrais, eles não estão recebendo os espíritos dos mortos antepassados? E outra coisa, a reencarnação não faz parte das crenças da Umbanda e do Candomblé? Se você é a favor e defende estas crenças, como você não acredita na reencarnação?
ResponderExcluirCaro amigo Brad,eu tenho acompanhado seus videos que são super interessantes, ótimos e muito explicativo, eu estou gostando muito.... eu sou Espiritualista e amo pesquisar profundamente tudo que está relacionado ao Espiritual.....e ainda falando sobre a morte; uma vez pesquisando sobre o candomblé, um Pai de Santo (do Candomblé), me disse que quando um fiel candomblecista morre, o corpo dele fica alguns dias no terreiro, sendo preparado para um ritual de despedida, e no dia desta cerimônia o morto é exposto junto com a comunidade de fiéis,e um Dirigente responsável vai ao morto faz a oração da vida e da morte em Yorubá, e nesse momento o morto recebe pela última vez o seu Orixá ,se move e grita o seu ilá....isso é verdade? Por que eu fiquei tão apavorado e pertubado, que eu nem conseguia dormir,e por fim eu até parei de estudar sobre o candomblé.... e agora depois de muito tempo que eu aos poucos, estou retornando a pesquisar a religião....por favor me esclarece isso, pode uma pessoa depois de morta receber seu Orixá, se mover e dá ilá? Isso acontece em alguns lugares do nosso País ou na África? Como explicar e aceitar tal fato?
ResponderExcluirUm forte abraço, muito Axé, Paz e Luz para voce!
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