sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ègbòrì – A Iniciação Mais Importante do Candomblé

Olukó Brad Pághanni de Oxalá


1.0 – O Conceito de Ègbòrì.


            O candomblé é uma religião genuinamente brasileira ramificada em múltiplas tradições provenientes do mesmo continente: a África. Dentro do candomblé, podemos observar uma série de difusões ritualísticas com um determinado intento. São muitos ritos e muitos horizontes a serem impetrados, todos com o mesmo desígnio: aspirar compreensão da humanidade em homeomorfo à espiritualidade.

            O candomblé mune seus cultos competentes, independentes de quaisquer religiões. Os adeptos dessa religião cultuam, veneram, exaltam a natureza em forma de Deuses diversos, muitas vezes generalizados como “Orixás”. Não só esses Deuses, mas também a ancestralidade, os animais e a própria energia. Fundamentados nesta última que iremos prosseguir o objeto.

            Ègbòrì é o nome dado ao processo ritualístico cujo intuito é revigorar, reconstruir, restaurar e manter saudável nossa energia pessoal, ou, a energia de nossa cabeça, mentalidade.

            Etimologicamente, a palavra Ègbòrì vem do Ioruba arcaico (èdèe yorùbá) onde há a soma de dois morfemas: Ègbò (oferenda, trabalho sagrado) + Orí (cabeça). Na linguagem coloquial do candomblé – “Borí”.

            O ritual Ègbòrì é dedicado única e exclusivamente a nossa cabeça; e tal é considerado por Orúnmilá Ifá (deus da sabedoria) a iniciação mais importante no mundo religioso, uma vez que a cabeça é a morada dos Orixás e das demais energias.

            Este feito consiste em uma série de fundamentos, baseados em ervas, cantigas e sacrifícios para manter a energia vital do ser humano. Nada tem haver com iniciação L’esy Òrìsà (iniciação tradicional) ou L’esy Ifá; ou até mesmo L’esy Yiamí Osóoròngá.

            Segundo a crença e a tradição, o Ègbòrì é um ritual de oferenda à cabeça, trazendo para o feitor, paz, harmonia, clarividência, estrutura e uma série de atributos positivos e essenciais para felicidade. Com isso podemos dizer com extrema precisão que – o Ègbòrì é um ritual próprio, com uma finalidade independente. Acredita-se que essas oferendas “alimentam” o Orí, assim como a fé.

            É possível encontrar o Ègbòrì em todas as ramificações do candomblé, e também em religiões análogas. A diversidade é muito grande. Só nas ramificações, podemos encontrar:

            Ketu – da Bahia e a maioria dos estados Brasileiros; Nagô-Egbá – em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Alagoas e Paraíba; Mina-Nagô; Xambá; Angola, entre outros.

            Em outros países... A Santeria Cubana, em Cuba, o Obeah, em Trinidad e Tobago e o Vodou – no Haiti.

            Isso mostra a diversidade que tem o ritual Ègbòrì e sua independência com relação a todos e quaisquer deuses e semi-deuses.



1.1 - Ègbòrì e a Relação com os Orixás


            A confusão que acontece com relação ao Ègbòrì e o chamado L’esy Òrìsà está na sua cumplicidade; o que não significa dependência. Ao se iniciar na religião, o futuro Yawò passa por uma preparação. Ele precisa estar forte para as ritualísticas L’esy Òrìsà; e por este motivo muitos confundem os dois cultos, acreditando na dependência e não na cumplicidade.

            A mesma coisa acontece com a iniciação a Ifá e a Yiamí Osóoròngá. Até mesmo nas ritualísticas para os futuros Ojés Atokún (sacerdotes da ancestralidade). É preciso um preparo, uma prevenção para ocasiões contraproducentes e inesperadas.

            Sintetizando... O Ègbòrì é um culto independente onde as oferendas são dispostas à cabeça e a energia vital – de um modo unânime. Pode estar presente em qualquer ramificação do candomblé ou em religiões adjacentes.
                                            


Brad Pághanni.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1990 de uma tradicional família, Pághanni iniciou seus estudos respectivos a religiões de matrizes africanas ao freqüentar uma casa de umbanda – no Rio de Janeiro (Centro Espírita Vovó Cambinda da Bahia e Caboclo Sete Estrelas) – de mãe Nilza de Xangô no ano de 2002.
Mais tarde, escreveu uma série de apostilas e alguns livros falando sobre o assunto. Dedicou-se ao estudo de Ifá – formando então a cabana Egbé Oluwá Nláokán – onde jogava búzios. Paralelo a isso, Pághanni formou um grupo presencial de estudos (Brad de Oxalá, Gustavo de Ogum, André de Ossaim, João Pedro de Oxalá, Yuri de Oxalá e Soelan de Oxóssi), onde seus constituintes (na época, todos menores de idade) visavam à revolução no candomblé: Sociedade Candomblé Moderno.
Realizou também workshops sobre temas de candomblé em um centro cultural no Rio de Janeiro, com uma galera de pré-vestibulandos e estrangeiros (Angolanos).
Mais tarde, esse programa de estudos se digitalizou e foi lançado na Internet, com mais de 350 adeptos e quase 10.000 conhecedores do movimento.

Hoje em dia, apenas Olukó. Não exerce função em barracão. Dedica sua vida aos estudos e ao profissionalismo. Casado, Brad é estudante de Letras, jornalista, escritor, poeta, compositor e artista visual. Autor do blog Individualidade & Diversidade – acessado em todo mundo, com conteúdos informativos, artísticos e acadêmicos. Também, apresentador do programa Sociedade Candomblé Moderno, na Internet. Professor extensivo de História da Arquitetura e Urbanismo de Belas Artes, Fotografia Digital, Biocombustíeis e Pedagodinâmica. Seus trabalhos literários possuem como principal característica, o amor pela teologia ioruba, rendendo assim, livros e dezenas de apostilas ainda não publicadas. Outros gêneros literários também fazem parte deste ciclo, como o romance e o erotismo. Teve sua primeira poesia publicada (A Vida é uma Caixa de Surpresas) aos onze anos de idade, em um livro didático. Iniciou oficialmente sua carreira de escritor aos quatorze anos, ao pesquisar os cultos do candomblé. Hoje, divide-se em diversos gêneros literários, acreditando que a arte de escrever é uma só.

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