O Resguardo Depois da Iniciação

O Resguardo Depois da Iniciação

- por Brad Pághanni

A iniciação no candomblé é um tema que gera muita polêmica pelo fato de existirem diversas formas de se compreender a mesma, ainda mais quando o assunto é resguardo.

Antigamente, os nossos ancestrais escravos precisavam de uma lista infinita de restrições depois da iniciação, pelo simples fato de terem sido proibidos de praticar respectiva fé. Os europeus da época catequizavam a força os escravos, no que desembocou no famoso ‘Sincretismo Religioso no Brasil’. Quando os escravos eram pegos praticando a devoção aos Orixás, eles eram punidos. Com isso, precisavam de mais cautela e mais restrições.

Porque vocês acham que houve o Sincretismo Religioso? Como as imagens da Igreja Católica foram parar dentro dos terreiros? Os escravos eram obrigados a seguir a fé cristã, mas, por outro lado, eles oravam em Iorubá na frente das Imagens católicas como se estivessem rezando para aqueles santos católicos – quando na verdade – estavam transmitindo a fé aos Deuses africanos.

Então, para não serem punidos... Esses resguardos, essas cautelas eram formas de esconder o prosseguimento da prática afro-espiritual (não era considerada uma religião até então).

Então virou um fator CULTURAL e não ESPIRITUAL.

Não são tantos fundamentos ESPIRITUAIS que ditem que o recém-iniciado deve se privar de contatos sociais, entretenimento, leitura... Essas restrições que sobraram pós-iniciação, 80% são restrições de origem CULTURAL, FACTUAL, HISTÓRICA. Uma espécie de HERANÇA DE HÁBITOS devido às ocorrências e o desenrolar da história da religião.

Nada mais saudável para um recém-iniciado do que ler e buscar informações úteis; se alimentar culturalmente.

Existem materiais ruins? Sim, existem, mas... Existem materiais muito bons também com que podemos aprender sobre o candomblé.

Espero que eu tenha conseguido passar de forma simples e dinâmica essa questão de resguardo pós-iniciação.

Existem questões de resguardo por conta da espiritualidade? Sim! Existe. Mas estas restrições não privam o recém-iniciado de ler, estudar, buscar entender a religião.

Muito pelo contrário! Se ele não ler, se ele não buscar entender, o candomblé será formado por uma legião de boçais, ignorantes que não sabem descrever a própria religião – quem dirá entender o que está fazendo dentro dela.